Fernando Laranja, CEO da Caaporã, explica as vantagens econômicas e ambientais do modelo que combina cultivo de árvores e produção pecuária


Diante do desafio de conciliar a produção agropecuária eficiente com a recuperação ambiental, os Sistemas Silvipastoris vêm se destacando como alternativas transformadoras do campo brasileiro. Ao agregar o componente arbóreo de forma planejada e funcional às áreas de criação animal, tais sistemas estabelecem sinergias ecológicas que elevam significativamente a produtividade e a sustentabilidade: é possível triplicar a lotação de gado por hectare, aumentar o ganho de peso dos animais em até 50%, além de reduzir em mais de 50% a pegada de carbono por quilo de carne produzida.
Esses avanços já são realidade para a Caaporã, empresa parceira do Fundo Vale no âmbito da Meta Florestal 2030 da Vale, que visa recuperar 100 mil hectares com sistemas sustentáveis até o fim da década. Ativa nos estados de Tocantins, Mato Grosso, São Paulo e Bahia, a Caaporã gerencia atualmente cerca de 20 mil hectares, sendo 6,6 mil deles ocupados por sistemas silvipastoris.
“Para o Fundo Vale, apoiar projetos como o da Caaporã é fundamental para demonstrar que a transformação sustentável da pecuaria é viável, estratégica e possui um enorme potencial de ganho de escala, capaz de transformar o Brasil em uma referência global em manejo regenerativo”, diz Bia Marchiori, responsável pela performance do programa, frente técnica, do conhecimento e de salvaguardas socioambientais da Meta Florestal 2030 da Vale.
O que são Sistemas Silvipastoris?
Os Sistemas Silvipastoris são modelos de uso da terra que integram, em uma mesma área, árvores, pastagens e o componente animal, promovendo benefícios mútuos entre todos os componentes. A introdução de árvores nos sistemas pecuários gera efeitos positivos, como:
- As espécies arbóreas fornecem serviços ecossistêmicos, como: ajudar a fixar nitrogênio, aumentar a fertilidade do solo e fornecer sombra gerando conforto para os animais.
- O sistema rotacionado de pastagens, aliado à presença de árvores, potencializa o crescimento do capim e a eficiência alimentar do gado.
Recuperação de pastagens
De acordo com Luís Fernando Laranja, fundador e CEO da Caaporã, a maioria das pastagens brasileiras apresenta algum grau de degradação, o que representa tanto um desafio quanto uma oportunidade para a expansão desse sistema sustentável.
“O Brasil tem cerca de 170 milhões de hectares de pastagens, mas grande parte é utilizada de forma inadequada, levando à perda de produtividade e à degradação do solo. Mais da metade dessa área apresenta algum grau de deterioração”, explica.
Desempenho produtivo e impacto climático
Segundo Laranja, com manejo adequado, é possível elevar tanto o número de animais por hectare quanto o ganho de peso diário: “No nosso modelo de negócio, o animal pode ganhar até 600 gramas por dia, enquanto a média brasileira está entre 300 e 400 gramas”.
Esse ciclo de engorda mais rápido resulta no abate antecipado, liberando áreas e reduzindo a emissão acumulada de metano, importante gás de efeito estufa proveniente da pecuária. Além disso, as árvores plantadas participam ativamente da captura e estocagem de carbono, transformando radicalmente o perfil de emissões dos sistemas produtivos.
“No sistema convencional, no norte do Brasil, a pegada de carbono da carne pode chegar a 50 kg de CO₂ equivalente por quilo de carcaça. Com os sistemas silvipastoris, baixamos para cerca de 20 kg – uma redução superior a 50%. Esse desempenho traz também potencial para geração de créditos de carbono, agregando valor ao produto, conclui Laranja.