O estudo foi realizado pelo ICC Brasil em parceria com a Systemiq, Emerge e Secretaria Nacional de Bioeconomia do Ministério do Meio Ambiente, com o Fundo Vale entre os patrocinadores

Durante a São Paulo Climate Week, a ICC Brasil (Câmara de Comércio Internacional) lançou um estudo inédito em parceria com Systemiq, Emerge e com a parceria do Fundo Vale: “O Potencial do Brasil na Bioeconomia do Conhecimento”. O relatório sintetiza o trabalho colaborativo de mais de 100 especialistas e entrevistas com 57 lideranças do setor, apresentando um diagnóstico profundo — e um chamado à ação — sobre o futuro sustentável da economia baseada na biodiversidade brasileira.
O documento revela um panorama promissor: a bioeconomia do conhecimento poderia movimentar entre US$ 100 e 140 bilhões até 2032 em setores estratégicos como alimentos, materiais, agronegócio, saúde e cosméticos. A pesquisa parte de um conceito ampliado de bioeconomia, que prioriza a geração de valor a partir de conhecimento científico, tecnológico e dos saberes tradicionais, promovendo inovação e competitividade global.

“O Fundo Vale acredita em parcerias que coloquem o Brasil na liderança da inovação baseada em natureza e impacto positivo para as pessoas e para o planeta. Acreditamos que a bioeconomia tem um potencial imenso de transformar a riqueza da nossa biodiversidade em soluções inovadoras, que geram valor para toda a sociedade e fomentam o desenvolvimento regional com inclusão, tecnologia e sustentabilidade. Mas para concretizar essa potência, precisaremos da ciência. O estudo mostra que o Brasil tem todas as condições para ser protagonista global nesse novo modelo econômico, conectando os saberes tradicionais com as universidades e institutos de pesquisa.”, afirma Márcia Soares, gerente Amazônia e Parcerias do Fundo Vale.
Brasil: potência da biodiversidade e da biotecnologia
Segundo o estudo, o Brasil reúne a maior biodiversidade do planeta — dono de 24% da fauna e flora global — aliada a um robusto ecossistema científico, centros de excelência como Fiocruz, Instituto Butantan e Embrapa, além de uma cadeia agroindustrial consolidada. Essa configuração confere ao país vantagens singulares para liderar uma economia regenerativa e circular. Dados do relatório mostram que só o setor de alimentos inovadores pode gerar entre US$ 40 e 50 bilhões/ano até 2032, enquanto materiais biodegradáveis, bioativos para cosméticos e soluções farmacêuticas baseadas em biodiversidade devem impulsionar essa revolução verde.
Para que esse potencial se torne realidade, porém, o levantamento aponta desafios históricos. Entre eles, a necessidade de ampliar o conhecimento sistematizado sobre os biomas (com menos de 10% das espécies da flora geneticamente mapeadas), diversificar os investimentos para além dos setores já consolidados, e aprimorar regulamentações para transformar ciência em negócios inovadores.
Propostas: da bancada científica ao mercado
O estudo detalha um plano estruturado em cinco eixos: fortalecimento da base científica sobre biodiversidade, consolidação do ecossistema de inovação, criação de condições de mercado favoráveis, aprimoramento regulatório e nova arquitetura financeira. A missão: multiplicar por dez o mapeamento genético dos biomas, criar até mil novos negócios científicos por ano e posicionar o Brasil como referência global em soluções sustentáveis.
Uma das mensagens centrais da publicação é a necessidade de uma nova governança — a chamada “hélice sêxtupla”, reunindo governo, ciência, empresas, investidores, sociedade civil e a própria natureza como agentes econômicos ativos — e da valorização dos saberes ancestrais de povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais como força motriz do desenvolvimento bioeconômico.
O lançamento, durante a São Paulo Climate Week, reforça o compromisso do setor empresarial e de entidades como o Fundo Vale em alinhar o futuro econômico brasileiro à agenda da sustentabilidade, promovendo biodiversidade, inclusão e inovação em escala global. O relatório completo está disponível no site oficial da ICC Brasil e será apresentado como contribuição do setor privado brasileiro para a COP30, em 2025.