Maioria dos entrevistados diz consumir produtos sustentáveis, mas fatores como preço, qualidade e conveniência ainda predominam na decisão de compra, mostra pesquisa da ASSOBIO, apoiada pelo Fundo Vale

A relação dos brasileiros com a sustentabilidade é marcada por uma ambivalência recorrente, revela a pesquisa inédita “O que o Brasil pensa da Amazônia”, idealizada pela ASSOBIO (Associação dos Negócios de Sociobioeconomia da Amazônia), em parceria com a Future Brand São Paulo e poio do Fundo Vale. O lançamento da pesquisa foi no dia 22 de setembro, durante a Climate Week de Nova York, no espaço do Banco do Brasil.
Um dos indicadores dessa ambiguidade é que, embora 81% dos entrevistados afirmem adotar práticas para economizar água e energia, 74% separem o lixo para reciclagem e 70% reutilizem embalagens, apenas 15% declaram ter a sustentabilidade como um tema de interesse cotidiano. O consumo de produtos sustentáveis também revela essa ambivalência: 60% dizem comprá-los com frequência e 86% reconhecem que essa escolha contribui para o meio ambiente. Na prática, porém, fatores como preço, qualidade e praticidade acabam tendo mais peso na decisão final. Assim, a sustentabilidade acaba ocupando um papel secundário, muitas vezes associada à culpa ou à moralidade, mas raramente suficiente, por si só, para guiar as escolhas do consumidor.
Para a Assobio (Associação dos Negócios de Sociobioeconomia da Amazônia), os dados reforçam a urgência de criar novas narrativas sobre a Amazônia, capazes de desconstruir estereótipos e aproximar a floresta da vida cotidiana. “É preciso ultrapassar a visão dicotômica entre preservação e exploração e promover a ideia de conservação com produção consciente. Só assim será possível transformar a Amazônia em um espaço produtivo, com a floresta em pé, gerando renda para suas populações e promovendo um futuro sustentável”, destaca o presidente da Assobio, Paulo Reis.
Bioeconomia
Embora a bioeconomia ainda seja um conceito pouco familiar para a maioria dos brasileiros, o tema começa a ganhar espaço. De acordo com a pesquisa, apenas 34% da população diz conhecer o termo, e mesmo entre esses, o entendimento geralmente é superficial, com associações limitadas à sustentabilidade, geração de renda ou reciclagem.
Apesar do elevado desconhecimento, os dados apontam para um cenário promissor. Cerca de 83% dos brasileiros acreditam que consumir produtos da Amazônia contribui para o fortalecimento das comunidades locais, e 82% concordam que é possível promover o desenvolvimento econômico da região sem causar destruição à floresta.
“É especialmente significativo ver que a maioria dos brasileiros acredita ser possível desenvolver economicamente a região sem destruir a floresta. O desafio é transformar a percepção em ação. Isso reforça a urgência de investir em soluções que valorizem a floresta em pé, gerem renda para as populações locais e conectem o consumidor com cadeias produtivas sustentáveis. Nosso papel, no Fundo Vale, é justamente fortalecer esses elos, apoiando negócios e iniciativas que promovem a bioeconomia amazônica com responsabilidade e impacto positivo”, analisa Marcia Soares, gerente de Amazônia e Parcerias do Fundo Vale.
A bioeconomia desperta interesse por reunir inovação, preservação ambiental e geração de renda. Esse entusiasmo, no entanto, vem acompanhado de uma postura crítica: para a maioria, é fundamental garantir fiscalização, transparência e o protagonismo das comunidades tradicionais, de modo a evitar que o incentivo ao consumo acabe reproduzindo práticas injustas ou predatórias.
Entre as barreiras para o maior consumo de produtos amazônicos, a ausência de reconhecimento é o principal fator, seja por logística, seja por informação. O estudo mostra que 54% dos entrevistados respondem não encontrar os itens onde moram; 34% não sabem identificar os produtos; e 22% apontam os preços elevados.
O que mais a pesquisa mostrou:
A relação dos brasileiros com a Amazônia, mesmo em pleno século XXI, é pautada pelo distanciamento e estereótipos. Na avaliação de Marcia, essa constatação revela não apenas um desconhecimento geográfico, mas também uma desconexão com as oportunidades reais que a região oferece, principalmente no campo da bioeconomia. “A floresta não é um lugar intocável e nem apenas um cenário exótico. É viva, produtiva e essencial para o futuro do país. Fortalecer essa conexão é fundamental para construir um modelo de desenvolvimento que una conservação, inovação e geração de renda para as comunidades tradicionais”, assinala.
Realizado entre junho e agosto deste ano, o levantamento avaliou o grau de proximidade da população com a região e quais atributos estão associados à floresta. A pesquisa identificou, por exemplo, que 65% dos brasileiros desconhecem a região, seja por nunca ter visitado ou por acompanhar a floresta apenas quando ganha destaque negativo na mídia.
A partir do diagnóstico gerado pelo estudo, busca-se identificar mensagens capazes de mobilizar o público e ajudar a construir um imaginário positivo em torno da Amazônia, sobretudo da bioeconomia amazônica, destacando ideias com maior potencial de gerar compreensão e engajamentos em ações futuras.
De acordo com a pesquisa, embora 35% dos entrevistados reconheçam que a Amazônia abriga grandes cidades, a maioria ainda a percebe como inatingível, congelada no tempo e a considera um território mítico. No entanto, ressalta o estudo, do imaginário coletivo de que a floresta desperta orgulho e fascínio, há também uma certa frustração e sentimento de impotência diante das constantes ameaças de destruição.
Saiba mais sobre a ASSOBIO acessando https://www.assobio.org/