Edição especial do Festival de Investimento de Impacto e Negócios Sustentáveis da Amazônia reuniu cerca de 430 pessoas em Belém e resultou na carta “Da Amazônia para o Mundo: uma carta de ação pós FIINSA COP30”

O FIINSA – Festival de Investimento de Impacto e Negócios Sustentáveis da Amazônia – transformou Belém, no dia 10 de novembro, em um dos espaços mais estratégicos de diálogo sobre o futuro da floresta em paralelo à COP30. Realizado pelo Idesam, Impact Hub e CESUPA, com patrocínio do Fundo Vale, o evento reuniu, das primeiras horas da manhã até a noite, cerca de 130 pessoas, entre empreendedores, investidores, lideranças indígenas, gestores públicos, pesquisadores e representantes da sociedade civil em um ambiente de escuta e construção coletiva.
Segundo Juliana Teres, cofundadora do Impact Club Manaus, o FIINSA COP30 segue o lema “Fazer Fala mais Alto’. “Em meio a tantas discussões importantes, queremos destacar a ação real e a implementação de soluções. Não se trata só de ideias ou promessas, mas de mostrar quem está botando a mão na massa, como isso está acontecendo e quais resultados já estamos vendo na floresta e nas comunidades locais”, declarou.
Dentro de uma programação diversa, um dos momentos de maior densidade foi o painel “Capital que alavanca impacto: como garantir resultados reais”, mediado por Carlos Gabriel Cury, diretor de Inovação em Bioeconomia do Idesam, com a participação de Márcia Soares, gerente de Amazônia e Parcerias do Fundo Vale; Paulo Monteiro, da diretoria executiva da Assobio; Denis Minev, diretor da Bemol; Flávio Soares Baré, diretor financeiro do Fundo Podáali; e Melissa Sandic representante da aliança filantrópica CLUA – Climate and Land Use Alliance.
A conversa reuniu experiências complementares de investimento filantrópico, capital privado, fundos indígenas e alianças internacionais, evidenciando que a transformação econômica da região depende da combinação de múltiplos atores e arranjos financeiros desenhados a partir da realidade dos territórios.
Na abertura do diálogo, Paulo Monteiro trouxe a perspectiva de quem sente “na pele” os desafios de construir negócios de impacto na região. Ele destacou que os investimentos para apoiar iniciativas amazônicas ainda são escassos diante da complexidade do território e chamou atenção para a necessidade de investir não só nas empresas, mas em todo o ecossistema: serviços jurídicos, laboratórios de P&D, logística, mão de obra qualificada e redes com universidades e pesquisadores. Para ele, um ecossistema saudável é aquele em que empreendedores podem errar sem que o erro signifique a morte do negócio.
O painel destacou experiências de fundos filantrópicos e de impacto que têm se adaptado às especificidades amazônicas. Márcia Soares relatou a transição do Fundo Vale de uma filantropia mais tradicional para uma atuação orientada a desenvolver uma economia sustentável, reconhecendo que modelos prontos importados de outros centros – como estruturas clássicas de venture capital – não funcionam automaticamente na região.
“A Amazônia é muito diversa, não dá para fazer um ‘copia e cola’ do que se pratica na Faria Lima. Precisamos de mecanismos e instrumentos customizados para essa realidade. O Fundo Vale busca justamente entender a diversidade dos negócios de impacto na região e suas necessidades em cada estágio, para criar arranjos mais viáveis para diferentes perfis de empreendimento”, explicou.
Márcia detalhou como o Fundo Vale vem usando capital filantrópico flexível como instrumento de teste e alavanca, seja como capital semente, seja como garantia para destravar recursos maiores, como no caso da Belterra, que acessou financiamento de R$ 100 milhões do BNDES com o suporte do Fundo, ou em arranjos que fortalecem cooperativas e associações para acessar linhas de crédito como o Pronaf.
Na mesma direção de cooperação e complementaridade, Melissa Sandic apresentou a CLUA – aliança que reúne seis fundações internacionais em torno da Amazônia. Ela explicou que a iniciativa nasceu do reconhecimento de que a complexidade dos territórios exige arranjos colaborativos de inteligência e recursos, e enfatizou a importância de debater agendas – como metas climáticas, conservação de territórios e fortalecimento da bioeconomia – buscando uma “orquestração” mais clara dos papéis de cada ator e a construção de soluções coletivas que maximizem a contribuição de cada organização.
Denis Minev, enviado especial da conferência climática para o setor privado da Amazônia, reforçou a centralidade dos empreendedores na construção de sociedades prósperas. Denis defendeu a COP30 como oportunidade para “alargar círculos” e fortalecer negócios sustentáveis, aproveitando instrumentos como o financiamento climático e as iniciativas de carbono. Em sua fala, apontou a recuperação de áreas degradadas, o armazenamento de carbono e a produção de alimentos como frentes concretas onde investimentos já começam a se materializar em emprego e renda na região.
Um contraponto essencial à lógica tradicional de financiamento veio de Flávio Soares Baré, do Fundo Podáali, fundo indígena da Amazônia gerido 100% por indígenas. Baré explicou que o fundo nasceu há cinco anos do sonho e da necessidade do movimento indígena de construir seus próprios mecanismos de apoio, menos burocráticos e mais próximos da realidade dos territórios.
Sua governança é composta por lideranças indígenas que representam diferentes regiões, garantindo que as diretrizes partam das bases e não de projetos prontos impostos de fora. Segundo ele, quando um recurso chega mediado por essa lógica, o impacto não é apenas financeiro: muitas vezes, o aporte ajuda a reativar tradições e saberes que haviam se perdido no tempo, mostrando que investir nos povos indígenas também é investir na recuperação de essências culturais fundamentais à conservação da floresta e à resiliência dos territórios.
Da Floresta para o Mundo: a carta de ação do FIINSA COP30
A carta “Da Amazônia para o Mundo: uma carta de ação pós FIINSA COP30” foi construída de forma coletiva ao longo do festival, a partir das contribuições coletadas nos debates, painéis e rodas de conversa. O documento reúne diagnósticos, propostas e soluções que posicionam a Amazônia como protagonista de uma nova economia inclusiva, inovadora e regenerativa, baseada na sabedoria de quem mantém a floresta viva.
“A carta representa um chamado coletivo para um novo pacto pela Amazônia. Ela nasce da escuta e da prática de quem vive e empreende na floresta, traduzindo em propostas concretas o que já acontece nos territórios. É um recado ao mundo: precisamos de investimentos comprometidos com o tempo da natureza, políticas que reconheçam o valor dos saberes locais e parcerias que respeitem a diversidade da região. futuro sustentável não será construído de fora para dentro: ele começa aqui, com as vozes e as soluções da própria Amazônia”, afirma Marcus Bessa, cofundador do Impact Hub Manaus e um dos realizadores do FIINSA.
Sobre o FIINSA
Realizado por Idesam e Impact Hub Manaus com patrocínio do Fundo Vale e apoio de uma ampla rede de parceiros, o FIINSA segue consolidado, desde 2018, como um espaço de conexão entre quem cria, quem investe e quem acredita na potência da floresta em pé.
Além dos debates intensos, o festival incluiu o Mercado Amazônia – uma feira de produtos da sociobiodiversidade, com artesanato, alimentos e cosméticos extraídos da floresta –, espaços de convivência e networking, experiências culturais e gastronômicas que celebravam a identidade paraense, e performances imersivas inspiradas na natureza.