26/11/25

Painel aconteceu no “Dia da Filantropia”, evento paralelo à COP30 Organizado pela CAF – Charities Aid Foundation, GIFE, IDIS, Sitawi Finanças do Bem, Latimpacto e WINGS 

Em uma tarde dedicada a refletir sobre o papel do capital filantrópico diante da emergência climática e das desigualdades sociais no Brasil, cerca de 150 pessoas se reuniram na Casa Balaio, em Belém, para um encontro paralelo à COP30 -o Dia da Filantropia. No painel “Arranjos financeiros para conservação e clima: se organizar direito, todos se beneficiam”, moderado por Leonardo Letelier, CEO da Sitawi Finanças do Bem, a conversa abordou de forma direta os desafios e aprendizados no uso de mecanismos financeiros híbridos para fomentar negócios sustentáveis na Amazônia.  

Letelier incentivou os convidados a revelarem o que acontece “por trás da cortina”, focando não apenas em casos de sucesso, mas nos obstáculos no caminho para escalar impacto socioambiental. Com participação de Patrícia Daros, diretora do Fundo Vale, o debate destacou a importância da filantropia, mas também trouxe à tona as barreiras regulatórias e a lentidão de outros fluxos de investimento. 

Patrícia apresentou a trajetória do Fundo Vale, que há 16 anos atua na Amazônia e vem migrando da filantropia tradicional para o apoio a negócios de impacto socioambiental, posicionando seus recursos como capital catalítico para fortalecer as operações dos negócios e suas cadeias de valor. Um dos objetivos do Fundo é atrair outros investidores para viabilizar a escalabilidade dos empreendimentos. 

 “O capital privado chega muito aquém do necessário. O Fundo Vale entra primeiro, assume mais risco, coloca capital na cota subordinada justamente para atrair outros recursos e ampliar o impacto – e esse capital não vem. O problema é que muitos investidores ainda são avessos a negócios de base florestal, que exigem paciência e disposição para lidar com riscos operacionais e climáticos”, afirmou. 

Pedro Hartung, CEO da Alana, trouxe a visão da atuação da organização, que integra filantropia, incidência política e comunicação para promover direitos de crianças, adolescentes e da natureza por meio de investimento sistêmico. “Para mudar alguma coisa, eu não posso usar só uma ferramenta. Eu tenho que fazer uma coalizão de pessoas, ferramentas, organizações e temas”, afirmou, defendendo que a filantropia deve “tirar o risco, testar e mostrar que é possível fazer diferente, construindo infraestruturas que depois possam ser usadas por outros agentes”.  

As falas convergiram para a necessidade de qualificar os investimentos com foco em territórios, ética e colaboração, reforçando que a filantropia está na linha de frente da construção de novos arranjos financeiros para a Amazônia. Ao mesmo tempo, ficou claro que essa atuação só terá escala se houver um ecossistema de investimento mais amplo. 

Sobre o Dia da Filantropia na COP30 

Organizado pela CAF – Charities Aid Foundation, GIFE, IDIS – Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social, Sitawi Finanças do Bem, Latimpacto e WINGS, o evento reuniu representantes de organizações da sociedade civil, investidores sociais, redes e iniciativas da região amazônica e de outras partes do país. A programação contou com três painéis que reuniram especialistas nacionais e internacionais, entre eles Mark Greer (CAF) e Anthea McLaughlin (Aliança Filantrópica Caribenha, além do momento “Vozes do Território”, com Rose Meire Apurinã (Fundo Podáali) e Francisca Gárdina Lima (Instituto Baixada).  

Os debates trataram de como a filantropia pode ser uma alavanca estratégica para enfrentar a pobreza, acesso à saúde, educação e proteção de direitos, articulando essas agendas à urgência climática e ao papel central da Amazônia. Ao longo das conversas, destacou-se que não basta ampliar recursos: é essencial qualificar a forma de investir, com foco em impacto de longo prazo, fortalecimento de organizações locais, respeito aos saberes tradicionais e autonomia das comunidades. 

Transparência, mensuração de resultados, troca de aprendizados e colaboração entre organizações aparecem como eixos centrais, com a defesa de agendas comuns, metas claras e espaço para inovação social e incidência em políticas públicas. Para Paula Fabiani, CEO do IDIS, o encontro evidenciou “uma enorme potência de compartilhamento de saberes e redes” e mostrou que, embora o trabalho à frente seja grande, também há inúmeras possibilidades de evolução.