Em painel na COP30, Fundação CERTI e parceiros apresentaram avanços, desafios e histórias que moldam um novo cenário de inovação na Amazônia

Em uma tarde dedicada a estratégias, resultados, aprendizados e histórias inspiradoras da Jornada Amazônia, a Fundação CERTI reuniu, no Parque da Bioeconomia e Inovação, especialistas e parceiros do programa para debater a evolução do ecossistema de inovação da bioeconomia, as conexões necessárias para impulsionar a inovação e as formas de fortalecer esse ecossistema. O Fundo Vale — parceiro da Fundação CERTI no programa — integrou o painel “Estratégia de fomento ao ecossistema de inovação na bioeconomia”.
A Jornada Amazônia estimula negócios inovadores e de impacto na região, com foco na competitividade da bioeconomia, na conservação da floresta e no desenvolvimento social local, sob uma visão integrada de cobertura. “Em um contexto de transformação econômica e inovação na Amazônia, a Jornada nasce com ousadia e coragem para romper modelos tradicionais, superar dúvidas sobre investimentos sem retorno financeiro imediato e levar à região soluções já testadas em outras realidades socioeconômicas”, explicou Marcos Da-Ré, diretor de Economia Verde da Fundação CERTI.
Patricia Daros destacou o papel da iniciativa na construção de um ecossistema de inovação mais robusto. “Em 2018, já tínhamos entendido que a floresta é uma potente geradora de riqueza justamente para proteger a própria floresta. Fomos conhecer negócios de impacto socioambiental e vimos que quase todos estavam no Sudeste. A grande pergunta foi: cadê a Amazônia nessa conversa?”
Segundo ela, foi a partir desse diagnóstico que o Fundo Vale decidiu atuar para estruturar o ecossistema amazônico, conectando iniciativas, evitando a repetição de erros e fortalecendo cadeias da sociobiodiversidade. “A Jornada Amazônia não gera só negócios, gera gente. Mais pessoas se aproximam, mais conexões acontecem, mais conhecimento circula. Nada do que fizemos foi sozinho: repetimos muitas vezes ‘não dá para ir sozinho, vamos juntos’ — e isso mudou a economia real em vários territórios.”
Ao conduzir o diálogo, Da-Ré ressaltou o caráter sistêmico da Jornada e a ideia de “cobertura” ao longo da trajetória dos negócios. Ele destacou que nenhum ator isolado consegue oferecer tudo o que um empreendimento precisa, mas o conjunto de aceleradoras, fundos, bancos, filantropia e políticas públicas cria caminhos combinados para que as startups atravessem o “vale da morte” e mantenham a floresta em pé.
Outros participantes reforçaram essa visão. Silvana Rosa Machado, diretora do Bradesco, ressaltou o papel dos bancos: “Quando pensamos em sustentabilidade, pensamos em perenidade. O papel dos bancos é prover capital e financiamento. Queremos viabilizar produtos e soluções inovadoras para que essa agenda avance, com retorno para nós e nossos parceiros.”
Yuri Soares, chefe de Impacto do BID Lab, sublinhou o caráter inovador da bioeconomia: “Já financiamos mais de 3 mil organizações na região, mas esta onda é diferente. Vimos na Jornada Amazônia uma possibilidade real de transformação. Entramos como laboratório, testando instrumentos, e, a partir daí, conseguimos escalar recursos e coordenação. O que aprendemos aqui inspira toda a Pan-Amazônia.”
Leonardo Fleck, head de Sustentabilidade do Santander, destacou a mudança de escala do ecossistema: “No início, víamos um ecossistema frágil e fragmentado, com menos de 300 startups. Em três anos, esse número chega perto de 900. Isso muda a lógica: surgem efeitos de rede, cadeias de valor entre negócios e mais oportunidades de escala. O desafio agora é garantir alta taxa de sobrevivência e que todos ganhem dinheiro na ponta, inclusive os produtores.”
Marcelo Furtado, head de Sustentabilidade da Itaúsa, trouxe a perspectiva da economia real: “Aqui é o lugar onde se forma massa crítica e a economia real acontece. A bioeconomia aplica conhecimento em negócios que geram emprego, renda e mercado, ao mesmo tempo em que respondem aos desafios climáticos. Parte das soluções não vai dar certo, mas o erro alimenta o próximo ciclo. O que funcionar vai precisar de investimento — e estamos aqui para aprender a traduzir essas trajetórias em retorno sobre investimento.”
Por fim, Danielle Prioli, gerente de Programas Geopolíticos e Modernidades da Unesco, reforçou a importância de reconhecer a diversidade das “Amazônias possíveis”. “Há negócios criados para atender à comunidade local, sem intenção de escalar, que cumprem um papel fundamental e precisam de instrumentos diferentes daqueles voltados a startups com perfil de capital de risco. Precisamos aprofundar essa taxonomia e ajustar os apoios a cada tipo de economia”, concluiu.