23/04/25

Conheça a experiência do produtor rural Fernando Campos ao implementar uma agrofloresta por meio da Courageous Land, startup apoiada pelo Fundo Vale 

O Sistema Agroflorestal (SAF) tem se destacado como uma solução agrícola inovadora e benéfica em diversos sentidos, entre eles, a recuperação e conservação da saúde do solo.  Diferentemente da agricultura convencional, que se baseia em monoculturas e no uso intensivo de insumos químicos, a agrofloresta busca imitar os ecossistemas naturais, promovendo um aumento da biodiversidade, e a recuperação de funções ecossistêmicas essenciais, como a ciclagem de nutrientes, a polinização, a retenção de água e a regulação do microclima. Essa abordagem pode reduzir significativamente a necessidade de fertilizantes e pesticidas sintéticos, especialmente quando combinada com práticas de agricultura regenerativa.  

Além disso, as agroflorestas aumentam a resiliência dos sistemas agrícolas ao criar ambientes mais estáveis e adaptáveis às variações climáticas. A diversidade de espécies proporciona uma maior redundância funcional, garantindo que, mesmo diante de eventos climáticos extremos, como secas ou tempestades, algumas culturas continuem a se desenvolver, mantendo a produtividade e a estabilidade do sistema. 

Fernando Campos, produtor rural associado à Courageous Land – startup apoiada pelo Fundo Vale no âmbito da Meta Florestal 2030 da Vale – implementou uma agrofloresta em sua propriedade na Serra do Rio de Janeiro, região de Mata Atlântica.  “Nosso principal objetivo é recuperar áreas que por muitos anos foram pastos, transformando os novamente em áreas florestais, mas com produção agrícola associada. Também queremos dar abrigo à fauna local através de espécies importantes, como a palmeira juçara (Euterpe edulis) e ajudar na preservação de espécies ameaçadas de extinção”, explicou.  

Além da recuperação da fertilidade e da melhoria na infiltração de água no solo, o SAF ofereceu ao Fernando a possibilidade de diversificar as fontes de renda da propriedade. “Organizamos e planejamos as rotinas de trabalho e vendas com foco na produção das frutas, principalmente o limão tahiti e a tangerina ponkan, além do abacate e do avocado. Também temos produção de bananas, cúrcuma e gengibre”, conta.  

Impacto na comunidade  

A implementação da agrofloresta de Fernando trouxe benefícios sociais com a geração de empregos. O projeto, ainda em estágio inicial, emprega três pessoas em tempo integral e tem promovido um forte sentimento de contribuição para a recuperação ambiental. “Temos vizinhos que já vieram visitar o projeto e vislumbram implementar projetos similares em suas propriedades, pois veem o componente importante de restauro da natureza além, é claro, da possibilidade de gerar mais renda em suas propriedade, no curto, médio e longo prazo, já que a agrofloresta tem uma lógica sucessional intrínseca”, relata Fernando. 

O apoio da Courageous Land 

A implementação da agrofloresta do produtor contou com o suporte fundamental da Courageous Land, startup que atua na promoção e escalonamento de sistemas agroflorestais. Em 2023, a empresa direcionou um recurso não reembolsável para o projeto de Fernando, permitindo a expansão de 2 hectares de agroflorestas. Além do financiamento, a Courageous Land ofereceu assistência técnica, desenhou o sistema agroflorestal adequado às condições locais e continua apoiando o gerenciamento remoto do projeto. “Eles orientam as práticas e manejos necessários para nossa equipe executar”, destaca o produtor. 

A Courageous Land nasceu do desejo de combater as mudanças climáticas e promover a sustentabilidade através de agroflorestas. “Reconhecemos o potencial dos sistemas agroflorestais em restaurar ecossistemas e gerar renda para comunidades locais. No início, enfrentamos desafios relacionados à conscientização sobre os benefícios da agrofloresta e à adaptação de técnicas às diversas realidades dos produtores. Parcerias estratégicas, como a estabelecida com o Fundo Vale, foram cruciais para superar esses obstáculos e ampliar nosso impacto”, declarou Philip Kauders, CEO e cofundador da Courageous Land.  

Atualmente, a Courageous Land atua na Amazônia e na Mata Atlântica, em quatro estados brasileiros. Seguindo as especificidades de cada região, os arranjos produtivos combinam espécies madeireiras e frutíferas (nativas regionais e exóticas), se possível com a inclusão de pelo menos uma espécie zoocórica (como a palmeira juçara, cujas sementes são dispersas por animais, favorecendo a regeneração florestal), uma espécie ameaçada de extinção e uma espécie fixadora de nitrogênio no solo, além das adubadeiras tradicionais. A empresa também integra espécies como café e cacau, com madeiras nobres, palmeiras e especiarias.  

“A parceria com a Courageous Land fortalece nosso propósito de recuperar 100 mil hectares de áreas com impacto positivo na biodiversidade e em comunidades vizinhas, como prevê a Meta Florestal 2030 da Vale. Acreditamos que os sistemas sustentáveis de produção agrícola são fundamentais para a transição para uma economia de baixo carbono e a empresa está na vanguarda dessa mudança”, avalia Juliana Vilhena, gerente de Estratégia, Gestão e Impacto do Fundo Vale. 

Mensuração de impacto  

Para a mensuração de impacto na qualidade do solo, a  Courageous Land utiliza indicadores como o teor de carbono, que mede o sequestro de carbono e a saúde do solo, o pH do solo, que monitora a acidez e a microbiota, e o teor de nutrientes, que avalia a fertilidade e a eficácia das práticas agroflorestais. Outros indicadores incluem a porcentagem de areia, silte e argila, que avaliam a retenção de água e drenagem, e a densidade aparente, que mede a compactação do solo. A capacidade de retenção de água é importante para o cultivo em períodos de seca, enquanto a contagem de microorganismos e o índice de fertilidade ajudam a avaliar a saúde e a diversidade microbiana. 

Para medir o impacto na biodiversidade, podem ser utilizados indicadores como o Índice de Diversidade de Espécies (Shannon-Wiener), que avalia tanto o número quanto a abundância relativa das espécies. O monitoramento de espécies indicadoras, como aves e insetos de alto valor ecológico, fornece informações importantes sobre a qualidade ambiental. Além disso, uma observação periódica da fauna e flora, incluindo as plantas que compõem a regeneração natural, quantifica o impacto da agrofloresta. A cobertura vegetal e a estrutura do habitat, que analisam a complexidade do ambiente, são outros indicadores importantes.  

A saúde do solo 

O solo é um componente essencial para remoção de carbono atmosférico e mitigação das mudanças climáticas. A agricultura é um dos poucos setores produtivos onde se pode inverter a lógica e fixar carbono (no solo ou na biomassa vegetal) durante a produção. Solos saudáveis mantém mais carbono no solo e emitem menos gases do efeito estufa. Com o objetivo de contribuir para estudos sobre a melhoria da saúde do solo no Brasil, o Dr. Rafael Valadares, pesquisador do Instituto Tecnológico Vale (ITV), conduz desde 2020 em parceria com o Fundo Vale, um projeto de pesquisa para integrar indicadores químicos, físicos e biológicos em um índice avançado de saúde do solo. Assim, técnicas moleculares como o sequenciamento de DNA e de proteínas do solo, que antes eram restritas a estudos acadêmicos, agora são transformadas em indicadores de saúde do solo. Essa iniciativa já acompanha a maior parte dos empreendimentos apoiados pela Meta Florestal, que tem seus dados compilados e analisados pela equipe do ITV.  

O pesquisador Rafael Valadares também, recentemente, passou a integrar a Brazilian Soil Health Partnership (Parceria Brasileira pela Saúde do Solo). A iniciativa reúne produtores, pesquisadores e empresas com o propósito de alinhar a agricultura à sustentabilidade, identificando práticas de manejo que aprimorem os atributos físicos, químicos e biológicos do solo e unificando metodologias ao longo do país.  

Atualmente, a rede conta com 47 pesquisadores de 15 estados brasileiros, que conduzem estudos com protocolos padronizados. Essa padronização permite análises confiáveis e a criação de um conjunto mínimo de dados adaptados às condições do país, facilitando a escalabilidade das práticas sustentáveis em diferentes sistemas agrícolas. 

O ITV é parceiro do Fundo Vale na mensuração do Índice de Qualidade do Solo (IQS) nos projetos associados à Meta Florestal 2030 da Vale. Segundo Valadares, a metodologia do ITV vai além das técnicas tradicionais, pois utiliza uma gama de marcadores moleculares previamente selecionado para medir o bom funcionamento do solo. Com a análise molecular de amostras ao longo da área, é possível qualificar e quantificar a biodiversidade, evidenciando melhorias sutis que podem não ser detectadas por técnicas convencionais. “Dessa forma, podemos contribuir para que iniciativas conservacionistas que promovem a recuperação de ecossistemas, a captura e manutenção de C no solo sejam reconhecidas e valorizadas”, destaca Valadares.