31/03/25

Para celebrar o Dia do Cacau, 26 de março, preparamos uma matéria especial sobre o apoio técnico e financeiro do Fundo Vale à essa cadeia produtiva

Foto: Imaflora

O artigo “Agroforestry in Cocoa: Perspectives and Solutions“, publicado pela Plataforma Suíça para o Cacau Sustentável (SWISSCO) em fevereiro de 2025, trouxe uma análise sobre as vantagens da produção do cacau agroflorestal. De acordo com a publicação, os sistemas agroflorestais (SAFs) vêm ganhando destaque no cenário global pelo potencial para enfrentar desafios globais urgentes, como a conservação da biodiversidade, as mudanças climáticas, a segurança alimentar e o desenvolvimento sustentável. 

O cultivo de cacau por meio de SAFs oferecem vantagens importantes em relação aos sistemas convencionais de cultivo em pleno sol. As árvores ajudam a regular o microclima ao redor das plantas, reduzem as flutuações de temperatura, retêm a umidade e a fertilidade do solo e apoiam a ciclagem de nutrientes. As agroflorestas também diminuem a vulnerabilidade das plantas a pragas e doenças e aumentam consideravelmente o sequestro de carbono no solo. 

Do ponto de vista socioeconômico, enquanto os sistemas convencionais podem oferecer maiores rendimentos mais rápidos, os SAFs garantem uma produtividade mais estável e sustentável a longo prazo. Segundo o CocoaAction Brasil, iniciativa da Fundação Mundial do Cacau (WCF) aproximadamente 70% da produção de cacau no Brasil é proveniente da agricultura familiar. Para esses produtores, o cultivo do cacau agroflorestal representa uma oportunidade. Ao cultivar múltiplas espécies, é possível acessar diferentes mercados e reduzir os riscos associados à flutuação dos preços. Além disso, o uso racional de insumos tende a diminuir os custos de produção, melhorando assim a renda do produtor. 

A transição para os SAFs, no entanto, não é isenta de desafios, como destaca o artigo. A falta de investimento inicial em mudas, ferramentas e treinamento pode ser um obstáculo para pequenos produtores. Além disso, a falta de segurança fundiária em muitas regiões produtoras pode desencorajar os agricultores de adotar práticas de longo prazo.

Para superar essas barreiras, o artigo sugere o apoio de governos, empresas e organizações da sociedade civil. Incentivos financeiros, como pagamentos por serviços ambientais (PSA) e acesso a mercados para produtos diversificados, podem tornar os SAFs mais atraentes. Além disso, programas de capacitação e assistência técnica são fundamentais para garantir o sucesso da transição.

Apoio técnico e financeiro

No âmbito da Meta Florestal 2030 da Vale, que prevê a recuperação de 100 mil hectares de áreas até o final da década, o Fundo Vale apoia o fortalecimento da sustentabilidade na cadeia de cacau do Brasil por meio de apoio técnico e financeiro a negócios de impacto que priorizam sistemas sustentáveis de produção agrícola e que promovem rentabilidade e qualidade de vida para as comunidades envolvidas.

“O fortalecimento de práticas sustentáveis na cadeia do cacau é uma das nossas prioridades e passa por investimentos estratégicos que unem capacitação técnica, inovação e impacto socioeconômico. O conhecimento é um dos pilares para fortalecer uma cadeia produtiva sustentável. Com capacitações e o apoio a Unidades Demonstrativas, buscamos ampliar o acesso a boas práticas agroflorestais e impulsionar a recuperação de áreas em larga escala”, explica Liz Lacerda, da área de Parcerias e Fomento do Fundo Vale.   

A Belterra, com apoio do Fundo Vale e de outras organizações, já recuperou mais de 3 mil hectares de áreas na Amazônia, Mata Atlântica e Cerrado, utilizando SAFs e sistemas silvipastoris. Com o objetivo de expandir a produção de cacau para 40 mil hectares até 2030, a empresa opera viveiros de cacau em diferentes estados brasileiros.

Em 2024, o Fundo Vale, em parceria com o Imaflora e o CocoaAction Brasil, apoiou a implementação de duas Unidades Demonstrativas de Produção (UDPs) de cacau nos municípios de Uruará e Marabá, no Pará. Com suporte técnico do Imaflora e a colaboração de instituições como Ideflor-Bio, Secretaria Municipal de Agricultura e Sebrae, as UDPs funcionam como espaços de aprendizado prático. Neles, os produtores podem testar inovações e técnicas adaptadas às suas realidades, aumentando a produtividade e fortalecendo a sustentabilidade da cadeia do cacau.

Além das UDPs, o Fundo Vale apoiou a realização de eventos de capacitação em sete municípios do Pará, qualificando centenas de agentes de assistência técnica em temas como manejo de cacaueiros, análise de solos e sustentabilidade. Essa iniciativa integra o Projeto Cacau 2030, que busca potencializar a implementação de boas práticas agrícolas e acelerar o desenvolvimento sustentável da cadeia produtiva nacional.

“A assistência técnica é essencial para contribuir com o aumento da produtividade e ampliar a rentabilidade em SAFs com cultivo de cacau. Ainda há uma carência significativa desse serviço, principalmente orientadas para os sistemas agroflorestais. O Fundo Vale desempenha um papel importante ao apoiar a implantação de áreas demonstrativas e promover treinamentos que capacitam técnicos e disseminam conhecimentos sobre o cultivo de cacau agroflorestal”, destacou Guilherme Salata, coordenador da CocoaAction Brasil.

Além da parceria com o Imaflora e  CocoaAction Brasil para a criação das UDPs, o Fundo Vale também atua ao lado do Instituto Belterra no projeto Diálogos Agroflorestais. Essa iniciativa promove a troca de experiências e soluções coletivas entre organizações que trabalham com agricultura regenerativa. Entre os temas envolvidos estão restauração florestal, insegurança fundiária, arcabouço regulatório para negócios agroflorestais, modelos de negócios e captação de investimentos, além da formação de cadeias produtivas agroflorestais.