Encontros abordaram os avanços do compromisso voluntário da Vale e o papel dos sistemas agroflorestais na construção de uma nova economia da floresta

A Casa da Biodiversidade e Clima, iniciativa da Associação Brasileira de Entidades Estaduais de Meio Ambiente (Abema) em parceria com o Instituto Tecnológico Vale – Desenvolvimento Sustentável (ITV DS), sediou, durante a COP30, dois painéis moderados por Juliana Vilhena, gerente de Estratégia, Gestão e Impacto do Fundo Vale. Com foco em soluções baseadas na natureza (SbN), na construção de uma nova economia em territórios florestais, na colaboração científica e em estratégias de proteções de áreas, os encontros reuniram representantes de governo, empresas, pesquisadores e negócios de impacto.
Cinco anos da Meta Florestal 2030 da Vale
O primeiro painel apresentou a trajetória e os aprendizados da Meta Florestal 2030 da Vale, que neste ano completa cinco anos de implementação. Criada em 2019, a iniciativa nasceu do compromisso de proteger e/ou recuperar 500 mil hectares de florestas além das fronteiras operacionais da companhia. Essa ação voluntária tornou-se um marco de adicionalidade na agenda de clima, biodiversidade e desenvolvimento territorial sustentável da Vale e está associada a outra meta da companhia: tornar-se carbono neutra até 2050.
Ao longo desses cinco anos, a Meta Florestal 2030 da Vale consolidou-se como uma das iniciativas corporativas mais robustas de recuperação e proteção ambiental no Brasil, alcançando cerca de 43% da meta total – o equivalente a aproximadamente 220 mil hectares. Mais do que os resultados em números, a trajetória de atuação revela um novo modelo de atuação corporativa, focado na geração de impactos socioambientais positivos e duradouros, que integra instrumentos financeiros inovadores, parcerias estratégicas com negócios sustentáveis, organizações da sociedade civil, órgãos ambientais governamentais e ciência.
Para Patrícia Daros, diretora do Fundo Vale, a iniciativa representa uma mudança de patamar na atuação da empresa. “A Meta Florestal não é uma obrigação legal; é uma escolha de fazer mais. Não se trata apenas de compensar impactos, mas de criar valor onde a floresta em pé passa a valer mais do que a floresta derrubada”, afirmou. Ela enfatizou o caráter coletivo da agenda: “A Meta Florestal é feita de muitas mãos, a partir de muitos olhares. Existe uma complexidade enorme em articular todos esses parceiros e fazer tudo funcionar — mas é justamente essa colaboração ampla que faz a diferença”.
Thaís Volpe, do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema‑ES), comentou o apoio da Vale às Unidades de Conservação no âmbito da frente de proteção da Meta Florestal 2030, que inclui a doação de equipamentos, contratação de serviços e suporte às atividades de gestão. Segundo ela, o diferencial está na aproximação com as comunidades do entorno: “Quem vive perto da unidade de conservação, muitas vezes, só enxerga as restrições. Quando entende que aquela mata garante a água que irriga sua lavoura, que protege as nascentes da região, a percepção muda totalmente”. Thaís também ressaltou o papel da educação ambiental: “Ciência que não chega na ponta vira só artigo; quando entra na escola, na comunidade, ela muda a forma como o território se vê”.
Na perspectiva do apoio técnico e financeiro a negócios de impacto, Isabel Britez (Belterra), apresentou os avanços da restauração produtiva apoiada pelo Fundo Vale, com quase 4 mil hectares de sistemas agroflorestais implantados em parceria com produtores rurais: “O que fazemos já mostrou que funciona. O próximo passo é fortalecer um ecossistema inteiro de restauração produtiva, com muitas iniciativas atuando ao mesmo tempo para ganharmos escala”.
Do lado da ciência, o Instituto Tecnológico Vale (ITV) vem desenvolvendo indicadores e metodologias para acompanhar os efeitos da Meta Florestal em áreas recuperadas por meio de sistemas sustentáveis, como os agroflorestais. O pesquisador Rafael Valadares explicou que a saúde do solo tem sido usada como um dos principais termômetros da qualidade da restauração: “Um solo saudável produz alimentos, gera renda, fixa carbono e é mais resiliente a extremos climáticos. Se o solo melhora, é porque o manejo está no caminho certo”.
Ao avaliar os resultados alcançados pelo compromisso voluntário da Vale, Patrícia Daros afirmou: “O que a gente aprendeu é que não existe um único caminho, existe um mosaico de soluções. O papel da Meta Florestal é testar, aprender e compartilhar o que funciona, para que outras iniciativas possam ir mais longe, mais rápido. Em cinco anos, já conseguimos mostrar que é possível recuperar e proteger grandes áreas gerando trabalho e renda. O Brasil tem tudo para ser referência mundial em soluções baseadas na natureza. Quando juntamos ciência, comunidades, negócios e gestão pública em torno de um mesmo propósito, a floresta passa a ser um ativo estratégico para o futuro do país”, concluiu.
O próximo ciclo da Meta Florestal 2030, segundo a diretora do Fundo Vale, deverá aprofundar o monitoramento de resultados para clima, biodiversidade e comunidades, ao mesmo tempo em que amplia a escala de atuação.
Sistemas agroflorestais e a nova economia da floresta em pé

O segundo painel, voltado aos sistemas agroflorestais (SAFs) e à sua contribuição para o enfrentamento das mudanças climáticas, reuniu Philip Kauders, da Courageous Land; Sâmia Nunes, do Instituto Tecnológico Vale (ITV); Eduardo Rocha, da Plataforma Parceiros pela Amazônia (PPA); e Leonardo Carvalho, secretário de Meio Ambiente do Estado do Acre. Os participantes destacaram que os SAFs combinam produção de alimentos, recuperação ambiental e geração de renda, configurando uma solução integrada para desafios em territórios rurais.
“O Brasil tem uma meta de recuperar 12 milhões de hectares de vegetação nativa, dos quais 9 milhões estão em áreas de reserva legal. Uma das soluções é justamente o uso de sistemas agroflorestais, que ajudam a recompor a vegetação, o solo e a biodiversidade, ao mesmo tempo em que geram produção”, ressaltou Juliana Vilhena.
A Courageous Land, parceria do Fundo Vale no âmbito da Meta Florestal 2030 da Vale, atua para acelerar a transição produtiva por meio da implantação de SAFs em escala, em conjunto com agricultores e comunidades locais, oferecendo assistência técnica, modelos de negócio e mecanismos de financiamento inovadores. Na prática, isso se traduz na conversão de áreas em sistemas agroflorestais biodiversos, com múltiplas espécies, diferentes ciclos produtivos e maior resiliência climática.
Segundo Kauders, a parceria com o Fundo Vale ajuda a ampliar a escala dessas ações e conectar diretamente os resultados de campo a metas de clima e biodiversidade. Para ele, os SAFs representam uma resposta concreta e economicamente viável: “A agrofloresta nada mais é do que árvores em paisagens agrícolas, e é uma solução elegante para vários problemas ao mesmo tempo, uma solução muito completa”.
Sâmia Nunes, pesquisadora do ITV, destacou a contribuição da ciência aplicada para destravar a adoção de sistemas agroflorestais. O instituto vem desenvolvendo materiais técnicos em linguagem acessível, que ajudam agricultores a compreender melhor os custos de implantação, a viabilidade econômica no longo prazo e os benefícios ambientais dos SAFs. Esse conteúdo aborda desde o planejamento do desenho agroflorestal e o cronograma de colheitas até o papel dos SAFs na recuperação do solo, no aumento da biodiversidade e na geração de renda complementar.
Eduardo Rocha, da Plataforma Parceiros pela Amazônia (PPA), reforçou o papel dos SAFs na estruturação de cadeias da sociobiodiversidade e na adaptação climática em territórios amazônicos. Ele apresentou a PPA como uma rede que articula diferentes setores em torno do desenvolvimento territorial e do fortalecimento de negócios de impacto. Segundo Eduardo, sistemas agroflorestais bem desenhados ajudam a reduzir vulnerabilidades, diversificar a produção e gerar oportunidades econômicas, desde que inseridos em um ecossistema de parcerias e confiança entre comunidades, empresas, governos e organizações da sociedade civil.
Representando o poder público, o secretário de Meio Ambiente do Acre, Leonardo Carvalho, compartilhou a experiência do estado na implantação de SAFs em áreas degradadas. Ele apresentou resultados de programas que combinam apoio técnico, fornecimento de mudas e incentivos financeiros atrelados à recomposição florestal com cadeias produtivas agroflorestais. Carvalho relatou casos em que produtores, inicialmente resistentes, passaram a aderir aos SAFs após observar ganhos concretos de renda e melhorias na paisagem, inclusive em áreas críticas de desmatamento.
No conjunto, as contribuições de Courageous Land, ITV, PPA e governo do Acre reforçaram a mensagem de que os SAFs são um eixo estruturante da nova economia da floresta, articulando conhecimento científico, inovação em modelos de negócio, políticas públicas e protagonismo dos territórios.