Com patrocínio do Fundo Vale, evento foi marcado pelo diálogo e comprometimento com soluções concretas para o futuro da região amazônica

A Semana do Clima da Amazônia, realizada de 14 a 18 de julho em Belém, reuniu representantes do poder público, setor empresarial, sociedade civil e comunidades tradicionais em um grande encontro dedicado à construção de soluções sustentáveis para o futuro da região. Articulada por mais de 20 organizações de diferentes setores, a iniciativa promoveu uma programação diversa, com painéis temáticos, encontros de lideranças, manifestações culturais e atividades autogestionadas espalhadas por múltiplos territórios da cidade.
Ao longo dos dias, temas como transição justa, valorização dos recursos naturais e criação de um legado permanente para os povos amazônicos ganharam destaque em debates plurais sobre economia de baixo carbono, bioeeconomia, uso do território, turismo comunitário e desafios sociais, econômicos e ambientais da região. O evento incluiu também uma agenda cultural com shows de Lia Sofia, Nilson Chaves e Fafá de Belém, além de visitas de campo a negócios da bioeconomia.

“A ideia foi criar um movimento inspirado nas semanas do clima internacionais, como a de Nova York e a de Londres, mas que trouxesse um debate com quem vive e trabalha na Amazônia, com uma visão a partir do nosso próprio território”, conta Márcia Soares, gerente Amazônia e Parcerias do Fundo Vale, que fez parte do Comitê Executivo do evento. “Queremos que o evento entre na agenda Amazônia, e que tenha itinerância, passando por outras capitais da Região a cada ano”, completa.
A abertura foi marcada pela presença de Patrícia Daros, diretora do Fundo Vale, Marcello Brito, Secretário Executivo do Consórcio Interestadual Amazônia Legal, Anderson Baranov, CEO Brasil da Hydro, André Guimarães, diretor executivo do IPAM e Enviado Especial da Sociedade Civil para a COP30, Alex Carvalho, presidente da FIEPA, Caio Magri, diretor-presidente do Instituto Ethos, Joaquim Belo, diretor do Conselho Nacional das Populações Extrativistas, e Ricardo Mussa, chairman da Sustainable Business COP30 (SB COP) . Eles deram o tom de cooperação e urgência para as discussões, reforçando a necessidade de diálogo entre setores diversos para responder aos desafios ambientais, sociais e econômicos da Amazônia.

Para Patrícia Daros, a Semana do Clima representou um passo além do debate. “Nosso objetivo é transformar o diálogo em ação. A Semana do Clima buscou propostas concretas e iniciativas estruturantes, capazes de inaugurar um novo modelo de desenvolvimento sustentável para a Amazônia, no qual a preservação ambiental caminhe ao lado da justiça social e das oportunidades econômicas, sempre conectado às realidades locais e aos grandes desafios do nosso tempo”, afirmou.
O papel da mineração na transição
O painel “A transição para uma economia de baixo carbono e o papel dos minerais essenciais” reuniu grandes nomes do setor da mineração, incluindo Rodrigo Lauria, Diretor de Mudanças Climáticas e Carbono da Vale. Lauria enfatizou a relevância estratégica dos minerais produzidos no Brasil para a cadeia global de tecnologias limpas, ressaltando o comprometimento da Vale em conciliar crescimento econômico com responsabilidade ambiental. O painel abordou os desafios e as oportunidades de liderar iniciativas que aceleram a descarbonização, citando exemplos de práticas inovadoras da empresa tanto no controle de emissões quanto no investimento em pesquisa para mineração sustentável.
Nos dias 16 e 17, o Fundo Vale e o Instituto Tecnológico Vale (ITV) promoveram seis painéis que reuniram especialistas, empresas e lideranças para discutir soluções práticas e inovadoras diante da crise climática e dos desafios da preservação da biodiversidade, especialmente em áreas sensíveis da região amazônica. Veja a seguir as temáticas debatidas.
MapRios – Mapeando o Uso do Solo nos Rios
A iniciativa MapRios foi apresentada como uma ferramenta essencial para mapear o uso cumulativo do solo ao longo dos rios do Brasil, com ênfase estratégica na Amazônia. Especialistas discutiram os impactos das mudanças de uso da terra, como desmatamento e atividades ilegais, sobre os ecossistemas aquáticos e a saúde dos rios, ressaltando a importância de uma gestão integrada das bacias hidrográficas. O painel destacou como a iniciativa busca fornecer informações inéditas para promover o uso sustentável dos recursos hídricos e a conservação da biodiversidade, dialogando de maneira inovadora com dados federativos e regionais.
Clima em Ação – Soluções Privadas Globais
A segunda mesa reuniu empresas e representantes do setor privado para compartilhar experiências no enfrentamento da crise climática, evidenciando como as empresas têm se mobilizado de maneira crescente. Foram apresentados casos práticos de negócios e tecnologias que vêm contribuindo para a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas, por meio do alinhamento às metas do Acordo de Paris, investimentos voltados para sustentabilidade e parcerias inovadoras.
Perda Líquida Zero de Biodiversidade na Mineração – Desafios e Soluções
Esse painel aprofundou o debate sobre a busca pelo equilíbrio entre produção mineral e conservação ambiental. Com a participação de empresas, pesquisadores e especialistas em biodiversidade, foram compartilhadas experiências e estratégias direcionadas à proteção dos ecossistemas durante a mineração. O evento destacou as melhores práticas internacionais e nacionais, discutiu avanços em políticas públicas e enfatizou a importância do diálogo contínuo entre setor produtivo e iniciativas globais de conservação, visando garantir que o desenvolvimento na Amazônia aconteça com responsabilidade e respeito à riqueza ecológica local.
O Papel das Florestas no Combate à Crise Climática
Nesse painel, especialistas discutiram a função das florestas tropicais para além do armazenamento de carbono, ressaltando o papel desses ecossistemas na regulação do clima, redução de temperaturas e manutenção dos ciclos das águas. O debate enfatizou, ainda, a urgência da restauração florestal e sua capacidade de proteger comunidades e ecossistemas vitais, colocando a Amazônia no centro das soluções para mitigação e adaptação climática. O painel destacou, ainda, a necessidade de políticas integradas para garantir a conservação e expansão das áreas florestais.
Os Desafios e as Tecnologias para Escalar Sistemas Produtivos Sustentáveis
Os participantes abordaram desafios como acesso a financiamento e conhecimento técnico, barreiras culturais e dificuldades enfrentadas por produtores, principalmente pequenos e médios. O painel apresentou soluções inovadoras — como tecnologias de monitoramento remoto e novos sistemas de manejo — que estão revolucionando cadeias produtivas. O debate também destacou a importância da união entre setores econômicos, ambientais e sociais como chave para a promoção de inclusão, justiça climática e viabilidade econômica, sinalizando tendências para o fortalecimento de práticas regenerativas e negócios sustentáveis.
Economia da Floresta – O Papel das Reservas Extrativistas na Proteção Ambiental e Bioeconomia da Amazônia
Representantes de comunidades e especialistas mostraram como essas reservas alinham práticas de conservação ambiental à geração de renda e à valorização cultural dos povos da floresta. O painel mostrou exemplos de sucesso na contenção do desmatamento e preservação dos modos de vida tradicionais, mas também trouxe à tona desafios logísticos, de acesso a mercados e de políticas públicas para o fortalecimento dessas áreas. Ao valorizar as reservas como pilares da economia da floresta, a discussão reforçou que apoiar as comunidades extrativistas é investir em uma bioeconomia vibrante e em cadeias produtivas alinhadas à sustentabilidade.
Cenário de Bioeconomia no Brasil – Avanços nas Políticas Públicas
O painel sobre políticas públicas para a bioeconomia enfatizou o potencial do Brasil em liderar essa agenda globalmente. Especialistas e gestores públicos apresentaram avanços como a Estratégia Nacional de Bioeconomia (2024) e o Plano Estadual de Bioeconomia do Pará (PlanBio), iniciativas emblemáticas no incentivo a práticas produtivas que unem preservação florestal, geração de renda e inovação. O debate também destacou o papel de referência que o Brasil assumiu no G20 ao definir Princípios de Alto Nível para a Bioeconomia, demonstrando alinhamento internacional e protagonismo. Desafios de implementação, necessidade de investimentos e fortalecimento das cadeias da sociobiodiversidade foram apontados como pontos de atenção para garantir a consolidação dos avanços nas políticas públicas e o posicionamento estratégico do Brasil na nova economia verde.
Balanço final

A Semana do Clima da Amazônia encerrou com uma carta que traz um balanço da semana e reflexões feitas. No documento, os realizadores reafirmam o compromisso coletivo com a construção de um futuro sustentável para a região, colocando a defesa dos direitos das populações amazônicas no centro das decisões e destacando a importância do diálogo contínuo entre sociedade civil, governos, empresas e comunidades locais.
A carta ressalta temas como a necessidade de uma transição justa, a valorização da bioeconomia enraizada no território, ações urgentes de descarbonização com respeito aos povos da floresta e o papel das juventudes como protagonistas das soluções climáticas. Entre os principais encaminhamentos, está a proposta de tornar a Semana do Clima um evento anual e itinerante, a criação de uma plataforma permanente de participação social e a defesa de políticas públicas baseadas em justiça climática, restauração ecológica e fortalecimento de direitos.
O documento também faz um chamado para que a Amazônia seja protagonista nas discussões globais da COP30, levando propostas concretas e reivindicando escuta, ação e financiamento para a região, numa mobilização coletiva que vai além do evento e reforça que o futuro da Amazônia é fundamental para toda a humanidade.