Imaflora fala sobre o protocolo exclusivo que desenvolveu para o Fundo Vale gerir o impacto socioambiental dos negócios que recuperam áreas
À medida que investidores e mercados dão mais atenção à legislação ambiental, à rastreabilidade e aos requisitos de sustentabilidade, os empreendimentos ligados à sociobiodiversidade e ao manejo florestal passam a ser avaliados por critérios cada vez mais rigorosos. Nesse contexto, as salvaguardas socioambientais tornam-se essenciais não apenas para apoiar o cumprimento de exigências legais e éticas, mas também para viabilizar investimentos, atrair offtakers (compradores) e conquistar certificações de sustentabilidade nas cadeias produtivas.
Salvaguardas socioambientais consistem em um conjunto de políticas, práticas e processos adotados por empresas para auxiliar na conformidade legal, promover boas práticas e minimizar os impactos ambientais e sociais adversos em toda a cadeia produtiva. O respeito aos direitos dos trabalhadores, o combate ao desmatamento, a promoção da conservação do solo e da biodiversidade são alguns fatores avaliados.
No âmbito da Meta Florestal 2030 da Vale, as salvaguardas vão além do que é exigido por lei, contemplando um olhar atento para a realidade do meio rural brasileiro. Para entender como o Fundo Vale faz a gestão de salvaguardas, conversamos com Bia Marchiori, responsável pela performance do programa e frente técnica, salvaguardas socioambientais e gestão do conhecimento da Meta Florestal 2030 da Vale, e com Giulia Andrich, analista de Projetos e Serviços Sênior do Imaflora (Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola), parceiro estratégico do Fundo Vale, com mais de 30 anos de experiência em certificação socioambiental.
Protocolo exclusivo
Desde 2020, o Imaflora atua junto ao Fundo Vale na construção e aplicação de um protocolo de salvaguardas específico para a gestão do cumprimento da Meta Florestal 2030 da Vale, que prevê a recuperação de 100 mil hectares de áreas. O protocolo baseia-se em importantes certificações internacionais, como FSC (Forest Stewardship Council) para manejo florestal e Rainforest Alliance para produtos agrícolas, além de incorporar toda a legislação socioambiental, de trabalho e de priorizar as melhores práticas agrícolas e de bem-estar animal. “Trazemos para o campo normativas internacionais de certificação, adaptando para o nosso contexto”, destaca Giulia.
São 95 critérios avaliados anualmente, estruturados em três blocos:
Social: Direitos humanos, bem-estar dos trabalhadores, saúde, segurança, regularização do trabalho rural.
Ambiental: Combate ao desmatamento, regularização ambiental e da biodiversidade.
Agropecuário: Conservação do solo, boas práticas agrícolas regenerativas e, quando aplicável, pecuárias.
“A gestão das salvaguardas socioambientais protege tanto os negócios quanto os trabalhadores, além de abrir portas para os mercados premium, atrair investimentos responsáveis e construir relações comerciais de longo prazo. É com esse compromisso que o Fundo Vale busca apoiar os negócios, preparando-os para o mercado e incentivando a adoção de melhores práticas, potencializando o impacto socioambiental e minimizando riscos”, diz Bia.
Nesses cinco anos de parceria, a organização registrou uma clara evolução nos índices de cumprimento das salvaguardas, graças ao acompanhamento, troca de experiências e treinamentos realizados. “Criamos um guia de nivelamento para explicar cada critério do protocolo e estamos promovendo treinamento com todos os negócios acompanhados. É incrível ver a evolução e o comprometimento das empresas que fazem parte do portfólio de apoio do Fundo Vale”, relata Giulia.
Gestão de salvaguardas em campo
A gestão de salvaguardas não se resume à análise documental. A equipe realiza visitas de campo anuais nos polos dos empreendimentos, identificando desafios e propondo planos de ação corretivos. “É um trabalho de construção conjunta, sempre com foco na melhoria contínua”, explica Giulia. Quando se identifica algo fora do padrão, a equipe do Imaflora apoia a empresa na busca de soluções viáveis e conformes, promovendo o amadurecimento dos negócios e sua regularização. O acompanhamento vai além do check-list: métricas de score de risco ajudam a visualizar a evolução das práticas e o avanço dos empreendimentos ao longo do tempo.
Da mitigação de riscos à valorização no mercado
Implementar salvaguardas minimiza riscos jurídicos e reputacionais, principalmente em temas sensíveis, como o combate ao trabalho análogo à escravidão. Além disso, contribui para a geração de empregos, desenvolvimento territorial, aumento da renda local e proteção da biodiversidade.
Para o mercado, produtos provenientes de projetos com rigorosos controles socioambientais ganham destaque, principalmente quando certificados. “Produtos certificados têm melhor preço de prateleira e atendem a um público mais exigente, que valoriza a história por trás do produto”, conclui Giulia.